* Daniela Costa de Mendoza
Resumo
Este artigo aborda a forma como os livros didáticos são utilizados em sala de aula, levando em conta as implicações que isso tem na aprendizagem do aluno. O foco é avaliar as causas e conseqüências de um despreparo do professor para conseguir fazer uso do livro didático como um auxílio do seu trabalho. Portanto, me proponho a fazer uma análise do livro didático a partir dos dois principais atores do processo ensino-aprendizagem, o professor e o aluno. Por fim, relaciono a educação participativa com três ingredientes do ensino (livro didático, computador e professor), levando em conta as disponibilidades de se trabalhar de forma interativa com esses materiais.
Palavras-chave: livro didático, ensino, prática, professor, interatividade e utilização.
Introdução
Este artigo tem o objetivo de analisar o papel do livro didático na sala de aula, levando em consideração suas influências na prática do professor. O foco, aqui, é o aluno, considerando as implicações que ele sofre através de um ensino guiado pelo livro didático. Até que ponto este tipo de ensino possibilita que o aluno se coloque, e qual o espaço que lhe sobra para suas interferências e construções?
É possível notar, muitas vezes, uma conotação equivocada para com os livros didáticos na prática da sala de aula. Esses livros deixam de ser adotados como referências e passam a assumir uma posição em desataque no espaço escolar. O professor torna-se um mero agente que reproduz tudo que está no livro. Nesses casos, qual é o papel do professor, e porque ele assume esta postura?
Levando em consideração uma nova postura de ensino advinda da revolução tecnológica, pretendo abordar a utilização do computador em sala de aula, como uma mídia capaz de possibilitar ao aluno uma postura interativa. Contudo, trago a seguinte reflexão: As mídias utilizadas na escola podem ser responsáveis pela dinâmica na sala de aula?
O livro didático e o professor
O sistema de ensino concebe aos livros didáticos a função de orientar a prática pedagógica, são considerados como materiais de suporte, capazes de facilitar a organização do ensino. Contudo, há críticas, pois é comum eles serem adotados pelos professores como um manual do ensino. Além dos conteúdos, o LD assume, em muitos casos, um papel responsável pela metodologia que os professores utilizavam, fazendo lembrar o modelo da cartilha.
É possível notar essa visão na fala de Soares quando ela diz que o papel ideal para o livro didático seria a sua utilização em forma de apoio ao trabalho do professor. Diferente de Soares, penso que a forma ideal de se trabalhar com os livros didáticos e as diversas mídias e materiais não está na sua utilização em forma de apoio, pois dessa forma eles continuarão sendo entendidos como um suporte do ensino. Percebam que a partir do momento que eles são visto como apoio, o professor permanece numa posição deficiente, em que necessita de materiais para se apoiar. Acredito que o LD pode servir para orientar o professor sobre determinados conteúdos, mas deve ser utilizado de forma dinâmica e questionadora, de tal forma que o professor e o aluno reconstruam um modelo tradicional, de verdades prontas e inquestionáveis.
“... O papel ideal seria que o livro didático fosse apenas um apoio, mas não o roteiro do trabalho dele. Na verdade isso dificilmente se concretiza, não por culpa do professor, [...] por culpa das condições de trabalho que o professor tem hoje. Um professor hoje nesse país, para ele minimamente sobreviver, ele tem que dar aulas o dia inteiro, de manhã, de tarde e, freqüentemente, até a noite. Então, é uma pessoa que não tem tempo de preparar aula, que não tem tempo de se atualizar. A conseqüência é que ele se apóia muito no livro didático. Idealmente, o livro didático devia ser apenas um suporte, um apoio, mas na verdade ele realmente acaba sendo a diretriz básica do professor no seu ensino.” (Soares, 2002).
Na fala de Soares podemos analisar a situação sob o lado do professor, ao invés de apenas criticarmos a postura inadequada na utilização do LD, passamos a pensar o que leva o professor a assumir essa postura. Nossos professores são despreparados para elaborar aulas mais criativas, muito, por conseqüência da desvalorização da profissão.
Por outro lado, uns dos agravantes desse uso absoluto do LD é a questão da importação de opiniões presentes no material, ou seja, o professor ao fazer o uso “bitolado” deixa de ser um mediador e passa a ser um transmissor do LD. Assim sendo, não podemos deixar de refletir sobre uma questão muito polêmica no que tange ao LD: o seu cunho ideológico e suas especificidades regionais.
“O livro didático (LD) não pode ser compreendido isoladamente, fora do contexto escolar e social. É um produto cultural - com suas especificidades, é claro - e, portanto, conformado segundo a lógica da escola e da sociedade onde está inserido.” (Davies, s/d).
Esses dois pontos fazem necessária uma postura mais colocada do professor em relação ao LD, afinal ele deve filtrar as informações ali presentes e passar para seus alunos de forma mais critica e direcionada.
O livro didático e o aluno
Quais são as implicações dos ensinos guiados pelo livro didático? Até que ponto este tipo de ensino possibilita que o aluno se coloque, e qual o espaço que lhes sobram para suas interferências e construções? Essas questões já sinalizadas na introdução explicitam a problematização do meu artigo e serão os pontos propulsores deste tópico.
Em primeiro lugar, temos que compreender que o aluno necessita de diversificação de materiais para poder conhecer maneiras diferentes de trabalhar um assunto e assim, ter acesso àquela maneira que mais lhe agrada e mais se identifica. Dessa forma, o aluno poderá ter possibilidades de se encontrar no espaço escolar, deixando de ser apenas coadjuvante desse espaço.
O ensino guiado pelo livro didático não disponibiliza momentos para que o aluno crie e invente suas hipóteses e atividades próprias, afinal, este acaba por seguir um padrão que lhe é dado, onde ele preenche lacunas e se adapta, ou não, a um modelo ditado pelo professor. Nesse caso, a educação não é transformadora, ela apenas ingere e reproduz as informações prontas.
Portanto, o professor não deve fazer uso apenas do livro didático. Os cartazes, as histórias em quadrinhos, cordéis, revistas, jornais, são apenas alguns exemplos de outros impressos que podem e devem ser utilizados em paralelo, ou como complemento do livro didático. Esses materiais poderão dinamizar a aula e oportunizar aos alunos a construção das suas atividades.
Livro didático X computador
A inserção do computador no espaço escolar pode trazer muitas possibilidades para trabalhar com o aluno de maneira mais interativa, em que ele produza e interaja com o professor, os colegas e os objetos de estudo.
O computador é um material que necessita, a todo tempo, da interação do usuário para que funcione. Dessa forma, o aluno não passará a aula apenas como espectador, ele poderá pesquisar simultaneamente à aula e trazer contribuições a partir de então. Além disso, o computador disponibiliza um mundo de possibilidades para que o aluno construa seus próprios materiais. Mas será que basta inserir o computador no ambiente escolar para que isso ocorra?
A maior importância numa pratica dinâmica e interativa está na postura do professor e nas prioridades que ele atribui ao ensino. Um professor de metodologia tradicional, que prioriza uma sala de aula comportada, em que todos permaneçam calados, onde só o professor fala, com certeza não irá utilizar o computador de acordo com o modelo acima. Não será o computador ou o livro didático que possibilitará a essa turma uma aula em que os alunos se coloquem. Dessa mesma forma, um professor que acredite na aprendizagem interativa, poderá possibilitar isso através, até mesmo, dos livros didáticos.
Considerações finais
Penso que o ensino deve acontecer de maneira interativa, possibilitando ao aluno um espaço em que ele se coloque e crie ou interfira nos objetos de estudo, dessa forma, nossos alunos poderão construir e produzir conhecimentos de forma sólida, produtiva e crítica. Contudo, acredito que o “segredo” da educação interativa está na formação do professor. A responsabilidade pela forma como o ensino é conduzido não está na mídia, mas sim no professor, ou melhor, na metodologia e na prática de ensino desse professor.
Em contrapartida a formação do professor não é absolutamente responsável pela melhoria do ensino. O professor tem que estar preparado e instruído para possibilitar que seus alunos tornem-se cidadãos críticos, mas as condições de emprego desses professores têm grande responsabilidade pelos maus processos do ensino, pois, como foi dito na citação de Soares, nossos professores necessitam, muitas vezes, trabalhar de manhã, de tarde e até a noite, além disso, eles corrigem provas e têm de planejar aulas, então acabam que, rotineiramente, se apóiam nos livros didáticos ao invés de planejarem suas aulas.
* Graduanda de pedagogia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Este artigo é requisito parcial para a disciplina Tecnologia Contemporânea e educação, ministrada pela professora Maria Helena Bonilla.
Referências:
SOARES, Magda. O livro didático e a escolarização da leitura. 2002. Disponível em <> Acessado em 25 de novembro, 2007.
DAVIES, Nicholas. “Livro didático: apoio ao professor ou vilão do ensino de história?”. s/d. Disponível em <> Acessado em 25 de novembro, 2007
Resumo
Este artigo aborda a forma como os livros didáticos são utilizados em sala de aula, levando em conta as implicações que isso tem na aprendizagem do aluno. O foco é avaliar as causas e conseqüências de um despreparo do professor para conseguir fazer uso do livro didático como um auxílio do seu trabalho. Portanto, me proponho a fazer uma análise do livro didático a partir dos dois principais atores do processo ensino-aprendizagem, o professor e o aluno. Por fim, relaciono a educação participativa com três ingredientes do ensino (livro didático, computador e professor), levando em conta as disponibilidades de se trabalhar de forma interativa com esses materiais.
Palavras-chave: livro didático, ensino, prática, professor, interatividade e utilização.
Introdução
Este artigo tem o objetivo de analisar o papel do livro didático na sala de aula, levando em consideração suas influências na prática do professor. O foco, aqui, é o aluno, considerando as implicações que ele sofre através de um ensino guiado pelo livro didático. Até que ponto este tipo de ensino possibilita que o aluno se coloque, e qual o espaço que lhe sobra para suas interferências e construções?
É possível notar, muitas vezes, uma conotação equivocada para com os livros didáticos na prática da sala de aula. Esses livros deixam de ser adotados como referências e passam a assumir uma posição em desataque no espaço escolar. O professor torna-se um mero agente que reproduz tudo que está no livro. Nesses casos, qual é o papel do professor, e porque ele assume esta postura?
Levando em consideração uma nova postura de ensino advinda da revolução tecnológica, pretendo abordar a utilização do computador em sala de aula, como uma mídia capaz de possibilitar ao aluno uma postura interativa. Contudo, trago a seguinte reflexão: As mídias utilizadas na escola podem ser responsáveis pela dinâmica na sala de aula?
O livro didático e o professor
O sistema de ensino concebe aos livros didáticos a função de orientar a prática pedagógica, são considerados como materiais de suporte, capazes de facilitar a organização do ensino. Contudo, há críticas, pois é comum eles serem adotados pelos professores como um manual do ensino. Além dos conteúdos, o LD assume, em muitos casos, um papel responsável pela metodologia que os professores utilizavam, fazendo lembrar o modelo da cartilha.
É possível notar essa visão na fala de Soares quando ela diz que o papel ideal para o livro didático seria a sua utilização em forma de apoio ao trabalho do professor. Diferente de Soares, penso que a forma ideal de se trabalhar com os livros didáticos e as diversas mídias e materiais não está na sua utilização em forma de apoio, pois dessa forma eles continuarão sendo entendidos como um suporte do ensino. Percebam que a partir do momento que eles são visto como apoio, o professor permanece numa posição deficiente, em que necessita de materiais para se apoiar. Acredito que o LD pode servir para orientar o professor sobre determinados conteúdos, mas deve ser utilizado de forma dinâmica e questionadora, de tal forma que o professor e o aluno reconstruam um modelo tradicional, de verdades prontas e inquestionáveis.
“... O papel ideal seria que o livro didático fosse apenas um apoio, mas não o roteiro do trabalho dele. Na verdade isso dificilmente se concretiza, não por culpa do professor, [...] por culpa das condições de trabalho que o professor tem hoje. Um professor hoje nesse país, para ele minimamente sobreviver, ele tem que dar aulas o dia inteiro, de manhã, de tarde e, freqüentemente, até a noite. Então, é uma pessoa que não tem tempo de preparar aula, que não tem tempo de se atualizar. A conseqüência é que ele se apóia muito no livro didático. Idealmente, o livro didático devia ser apenas um suporte, um apoio, mas na verdade ele realmente acaba sendo a diretriz básica do professor no seu ensino.” (Soares, 2002).
Na fala de Soares podemos analisar a situação sob o lado do professor, ao invés de apenas criticarmos a postura inadequada na utilização do LD, passamos a pensar o que leva o professor a assumir essa postura. Nossos professores são despreparados para elaborar aulas mais criativas, muito, por conseqüência da desvalorização da profissão.
Por outro lado, uns dos agravantes desse uso absoluto do LD é a questão da importação de opiniões presentes no material, ou seja, o professor ao fazer o uso “bitolado” deixa de ser um mediador e passa a ser um transmissor do LD. Assim sendo, não podemos deixar de refletir sobre uma questão muito polêmica no que tange ao LD: o seu cunho ideológico e suas especificidades regionais.
“O livro didático (LD) não pode ser compreendido isoladamente, fora do contexto escolar e social. É um produto cultural - com suas especificidades, é claro - e, portanto, conformado segundo a lógica da escola e da sociedade onde está inserido.” (Davies, s/d).
Esses dois pontos fazem necessária uma postura mais colocada do professor em relação ao LD, afinal ele deve filtrar as informações ali presentes e passar para seus alunos de forma mais critica e direcionada.
O livro didático e o aluno
Quais são as implicações dos ensinos guiados pelo livro didático? Até que ponto este tipo de ensino possibilita que o aluno se coloque, e qual o espaço que lhes sobram para suas interferências e construções? Essas questões já sinalizadas na introdução explicitam a problematização do meu artigo e serão os pontos propulsores deste tópico.
Em primeiro lugar, temos que compreender que o aluno necessita de diversificação de materiais para poder conhecer maneiras diferentes de trabalhar um assunto e assim, ter acesso àquela maneira que mais lhe agrada e mais se identifica. Dessa forma, o aluno poderá ter possibilidades de se encontrar no espaço escolar, deixando de ser apenas coadjuvante desse espaço.
O ensino guiado pelo livro didático não disponibiliza momentos para que o aluno crie e invente suas hipóteses e atividades próprias, afinal, este acaba por seguir um padrão que lhe é dado, onde ele preenche lacunas e se adapta, ou não, a um modelo ditado pelo professor. Nesse caso, a educação não é transformadora, ela apenas ingere e reproduz as informações prontas.
Portanto, o professor não deve fazer uso apenas do livro didático. Os cartazes, as histórias em quadrinhos, cordéis, revistas, jornais, são apenas alguns exemplos de outros impressos que podem e devem ser utilizados em paralelo, ou como complemento do livro didático. Esses materiais poderão dinamizar a aula e oportunizar aos alunos a construção das suas atividades.
Livro didático X computador
A inserção do computador no espaço escolar pode trazer muitas possibilidades para trabalhar com o aluno de maneira mais interativa, em que ele produza e interaja com o professor, os colegas e os objetos de estudo.
O computador é um material que necessita, a todo tempo, da interação do usuário para que funcione. Dessa forma, o aluno não passará a aula apenas como espectador, ele poderá pesquisar simultaneamente à aula e trazer contribuições a partir de então. Além disso, o computador disponibiliza um mundo de possibilidades para que o aluno construa seus próprios materiais. Mas será que basta inserir o computador no ambiente escolar para que isso ocorra?
A maior importância numa pratica dinâmica e interativa está na postura do professor e nas prioridades que ele atribui ao ensino. Um professor de metodologia tradicional, que prioriza uma sala de aula comportada, em que todos permaneçam calados, onde só o professor fala, com certeza não irá utilizar o computador de acordo com o modelo acima. Não será o computador ou o livro didático que possibilitará a essa turma uma aula em que os alunos se coloquem. Dessa mesma forma, um professor que acredite na aprendizagem interativa, poderá possibilitar isso através, até mesmo, dos livros didáticos.
Considerações finais
Penso que o ensino deve acontecer de maneira interativa, possibilitando ao aluno um espaço em que ele se coloque e crie ou interfira nos objetos de estudo, dessa forma, nossos alunos poderão construir e produzir conhecimentos de forma sólida, produtiva e crítica. Contudo, acredito que o “segredo” da educação interativa está na formação do professor. A responsabilidade pela forma como o ensino é conduzido não está na mídia, mas sim no professor, ou melhor, na metodologia e na prática de ensino desse professor.
Em contrapartida a formação do professor não é absolutamente responsável pela melhoria do ensino. O professor tem que estar preparado e instruído para possibilitar que seus alunos tornem-se cidadãos críticos, mas as condições de emprego desses professores têm grande responsabilidade pelos maus processos do ensino, pois, como foi dito na citação de Soares, nossos professores necessitam, muitas vezes, trabalhar de manhã, de tarde e até a noite, além disso, eles corrigem provas e têm de planejar aulas, então acabam que, rotineiramente, se apóiam nos livros didáticos ao invés de planejarem suas aulas.
* Graduanda de pedagogia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Este artigo é requisito parcial para a disciplina Tecnologia Contemporânea e educação, ministrada pela professora Maria Helena Bonilla.
Referências:
SOARES, Magda. O livro didático e a escolarização da leitura. 2002. Disponível em <> Acessado em 25 de novembro, 2007.
DAVIES, Nicholas. “Livro didático: apoio ao professor ou vilão do ensino de história?”. s/d. Disponível em <> Acessado em 25 de novembro, 2007